quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O retorno para casa!

Buenas, pessoal!
Promessa é dívida!
Posto algumas fotos tiradas do avião da LAN, durante o sobrevoo da Cordilheira dos Andes, na nossa (minha e da Mariloy) viagem de retorno para casa, no último domingo (dia 28/11). Lamento que as imagens consigam demonstrar muito pouco de todo o esplendor que é aquela cadeia de montanhas vista de cima!
Logo na saída do Aeroporto de Santiago, o avião toma o sentido leste e vence a primeira serra, que nesta época do ano já está com o processo de degelo praticamente consumado. Por isso, demoramos um pouco para divisar os primeiros picos nevados.


Lentamente, contudo, eles vão se tornando mais frequentes, até dominarem por completo a paisagem! Neve, muita neve, transformando a Cordilheira num grande lençol branco estendido, debaixo do qual como que mãos erguidas conseguem desalinhá-lo, para dar-lhe esse aspecto "amarrotado" e "pontudo"!


Ao longe, soberanos, reinam o Aconcágua e o Tupungato, que, por seu tamanho colossal (ambos quase na casa dos 7.000m de altitude), destacam-se na paisagem. Neste domingo do retorno, o tempo muito claro e o sol radiante permitem aos passageiros vislumbrarem todo o esplendor de seus cumes, e muitas máquinas fotográficas são apontadas para os bonitões... Com o binóculo que levamos, então, com maior riqueza de detalhes podemos vê-los, analisá-los e admirá-los!


Nas proximidades da cidade de Mendoza, quase ao fim da travessia da Cordilheira dos Andes, outra bela cena: uma grande nebulosidade "estancada" no paredão de pedra e areia, impossibilitada de seguir seu rumo em princípio determinado pelo vento, porque nem esse consegue vencer o obstáculo que se interpõe em seu caminho!
Há milênios vento, água e montanhas tentam demarcar seu território naquela paisagem inóspita. Mas nunca chegarão a um acordo... Bom para nós, que, por causa dessa briga eterna, conseguimos visualizar as cicatrizes que esse confronto vai deixando nas encostas e caminhos...
E assim, lenta e serenamente, vamos deixando a Cordilheira dos Andes para trás...
Uma estranha sensação toma conta de mim nesse momento. Parece que cruzar assim, por cima das montanhas, voando, não desafia, não compromete, não afeta, não atinge.
É. De fato, percebi que havia me impregnado de uma doença muito comum nos Andes, chamada DESAFIE-ME, que tinha, por sintomas, fortes INQUIETAÇÕES, ANSIEDADES e EXPECTATIVA, para o quê tomei um remédio cujo princípio ativo é o ENFRENTAMENTO, através de um longo tratamento de TRAVESSIA, que provocou minha cura através da CONQUISTA!
Estou curado. Mas... pelo que fiquei sabendo, essa doença volta com relativa frequência, apresentando sintomas, diagnóstico e tratamento bem parecidos com os de cima. E parece que o vírus que anda solto pelo ar já foi apelidado de "VOLTA DO URUGUAI", devendo me contaminar, pelas previsões, lá por fevereiro de 2014.
Alguém ficará doente também? E quererá fazer o tratamento comigo?
Obrigado a todos! Nem sei como retribuir tanta generosidade de vocês em me acompanharem nesse desafio, durante esses trinta dias.
Pelos comentários, pelo incentivo, pelas palavras amistosas e cordiais, só posso agradecer, lisonjeado.
Pela caravana de recepção que tivemos, a 20 km de Montenegro (no Posto PoloSul), com a presença de familiares e amigos, muitos balões, fotos, emoção e alegria! Uma linda homenagem da qual não me sinto merecedor, mas que deixou-me honrado e orgulhoso!
E assim como já estou sentindo saudade do barulho dos pneus da bicicleta sobre o asfalto, já estou sentindo saudade da "companhia" de vocês.
Espero que possamos um dia nos reencontrar para, juntos, vivermos outra viagem sobre duas rodas. E olhem que "não é de motocicleta, não! É de bicicleta mesmo" (afinal, não foi com esta frase que iniciei as postagens no Blog, no dia 14 de outubro de 2010?).
Um grande, um enorme, um cinchado, um bait'abraço a todos!
Paulo Renato Petry, cicloturista.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Reencontros e novas (grandes) amizades

Buenas, pessoal!
Na 6ª-feira 26, à tarde, após quase um mês sem ver minha esposa Mariloy, tive a grande alegria de reencontrá-la em Santiago do Chile! Saiu de Porto Alegre pela manhã, via aerea, e, à meia tarde, aterrissou na capital chilena.
Eu, claro, cheguei lá... pedalando!
Quanta saudade! Afinal, já são 21 anos, 02 meses e 10 dias de casamento, e três abençoados filhos, a Manoela (com 17 anos), a Rafaela (com 14) e o Paulo Augusto (com 13).
Quantos assuntos para colocarmos em dia, quantas notícias, quantas boas-novas...
E quanta felicidade recíproca pelo reencontro nessa situação, de extrema alegria pelo êxito do desafio a que me propus, e para o qual contei sempre com seu irrestrito, incomensurável apoio!
No próprio Aeroporto, conhecemos a pessoa que seria nossa anfitriã pelos próximos dois dias, a Cibele, sobrinha de um colega de trabalho nosso (meu e da Mariloy) e que, mesmo nos vendo pela primeira vez, insistiu que ficássemos em sua casa durante a permanência em Santiago. Ex-modelo brasileira que desfilou em passarelas de todo o mundo (inclusive capa da revista Vogue! Vale a pena olhar suas fotos na Internet: é uma mulher belíssima!), hoje, aos 27 anos, trabalha como psicóloga e cursa mestrado em terapia familiar. Que figura espetacular! Aliás, me corrijo: que figuras espetaculares, pois seu marido Alejandro, engenheiro chileno, também nos deixou constrangidos de tanta atenção e cordialidade!
E embora o Alejandro, por força de um compromisso, tivesse que viajar no sábado à tarde, ainda assim, na noite anterior, brindou-nos com uma típica parrillada, para a qual também convidou amigos que queriam nos conhecer.
Uma noite inesquecível!
No sábado, a Cibele prestou-se, com a maior boa-vontade do mundo, a servir de nossa cicerone por Santiago. Até localizar papelão para embalarmos a bicicleta visando despachá-la de volta para o Brasil ela fez!
Almoçamos na praça de alimentação a céu aberto de um shopping da capital, oportunidade em que tiramos algumas fotos para registrarmos momentos de alegre convivência.
E o bate-papo descontraído das duas novas amigas, que pareciam se conhecer há anos, tal a simpatia recíproca. Conversas sobre filhos foram muitas, pois a Cibele está radiante pela confirmação de sua primeira gravidez. É um barato ver o brilho nos olhos do nosso novo casal de amigos quando falam do pimpolho que dará o ar da graça lá por maio do ano que vem... E a Mariloy, mãe experiente, tinha muito o que contar...

À tarde, levou-nos e conhecer o Cerro San Cristobal, do qual enxerga-se em 360º a imensa cidade de Santiago, com seus 5 milhões de habitantes.



Que bonitinho, o casal no Cerro, "namorando"...

Foi, sem dúvida, um sábado de muita alegria, de muito afeto, de boa e interessante conversa, de conhecimento sobre o modo de vida dos chilenos, de sua grande força de vontade para superar o trauma do terremoto de janeiro (responsável por destruição de parte da cidade, pelo fechamento do aeroporto, pela condenação de prédios, pontes e viadutos à implosão) e retomar a rotina nesse que é um dos países com melhor qualidade de vida da América Latina.
Amanhã, conto o retorno ao Brasil, e posto as fotos de uma paisagem invulgar: a Cordilheira dos Andes vista do alto. É de ficar aborrecido com tanta beleza!
Bait'abraço a todos!

domingo, 28 de novembro de 2010

Enfim, o destino: Santiago do Chile!

Buenas, pessoal!
Nessa 6ª-feira (26/11), após 26 dias, 2.392,5 km percorridos (faltaram 7,5 km para 2.400!), depois de cruzar meu próprio Estado de origem, a Argentina e o Chile, passar por 105 cidades e/ou povoados, depois de alternar planícies e serras, suportar temperaturas de verão e de inverno extremos, depois de pedalar sob chuva, sob sol, de atravessar 16 túneis, de enfrentar uma das Cordilheiras mais exuberantes e mais seletivas de todo o Planeta, de cumprir uma rotina diária de 130 km em média pedalados (a menor distância: 65 km; a maior: 180 km), finalmente estacionei a bicicleta Caloi Elite 2.7 em frente ao Aeroporto de Santiago do Chile, e dei por ENCERRADA, COM ÊXITO, essa que foi uma das jornadas mais espetaculares da minha vida!
O que dizer numa hora dessas?
Fico tentado a fazer, já agora, uma análise (despretensiosa, claro) de tudo quanto representou e representará esse desafio na minha vida.
Mas não.
Por respeito a todos que, de uma forma ou de outra, vêm acompanhando essa travessia, vejo-me no compromisso de relatar como foi esse último dia de pedalada, até para poder também encerrar a descrição seguindo a rotina que por quase trinta dias vingou neste Blog. Não faltarão oportunidades de, nas próximas postagens, poder fazer um resumo, quem sabe arriscar algumas conclusões...
Assim, foi que:
Para cumprir essa etapa final, e vencer os 85 km que me separavam do Aeroporto, saí de Los Andes (Chile) às 09h da manhã.
Tarde, porque, ao pegar a bicicleta que ficara parada 3 dias no Hotel (de 3ª-feira 23 a 5ª-feira 25), descobri que seu pneu dianteiro estava furado. Um "fecho de ouro" para aquele que foi o único problema mecânico que enfrentei na bicicleta: 11 furos em 25 dias! Uma grande decepção a todo o conjunto ciclístico de rodagem (câmaras, pneus, fita de kevlar...).
Mas nada disso desmereceu a fantástica paisagem que se me descortinou aos olhos na saída daquela belíssima cidade chilena!
Uma grande subida, de cerca de 10 km, levou-me novamente próximo dos 1000 m de altitude, onde o último túnel da viagem (com 2 km de extensão), me aguardava. Claro, em cima de outro carro-socorro, porque é proibida a passagem de ciclistas no local.
À travessia desse túnel sucedeu-se uma forte descida, já em direção à Região Metropolitana de Santiago. Mas o vento - sempre ele! - determinou pedalada constante e firme mesmo lomba abaixo, a fim de que pudesse manter a média de 15km/h que me levaria, até mais tardar 17h, às portas do Aeroporto, onde minha esposa estaria chegando, proveniente de Porto Alegre.
Tempo para mais uma foto, dessa vez da paisagem que me acompanhou por praticamente todo esse último trecho pós-túnel (serras baixas, arenosas e, por isso mesmo, de pobre vegetação).
E o último monumento fotografado comigo e a bicicleta: uma homenagem à Batalha ocorrida em 1817, quando habitantes da Aldeia Chacabuco saíram vitoriosos na luta pela independência do Chile. É muito grande e muito bonito!
Em frente ao Aeroporto, ciclocomputador na mão, acho que a imagem abaixo fala por si...

Acabou!
Ou começou...
Não sei ainda. Uma "viagem" dessas termina com a chegada ao destino?

(Amanhã, postarei fotos da Cordilheira dos Andes vista de cima. E eu que pensei que bonito era lá embaixo...)
Bait'abraço a todos!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Pajada

Buenas, pessoal!
Desculpem-me a ousadia (e o pouco talento), mas aflorou uma veia poética em mim, neste dia de paz e sossego.

SEM FRONTEIRAS O VENTO, A NEVE E A GENTE

Existe um lugar na Terra
Solo sul-americano
Que, igual ao povo cigano
Nato encanto encerra
Da encosta da menor serra
Ao topo da Cordilheira
Tremule qualquer bandeira
De nações pequenas ou grandes
Pois para os ventos dos Andes
Não existe essa tal fronteira!

Cerro imenso americano
Recortado território andino
Quem o quis um dia argentino
De Peru, Chile, boliviano
De Equador ou colombiano
Fez pelejar irmão contra irmão
Fracionando esta vastidão
Mas nos montes colossais
Suas neves invernais
Ignoram demarcação.

Agora, nas rochas nuas
Acorrem gentes estranhas
Cavam as suas entranhas
Arrombando-as à força de puas
Expondo suas carnes cruas
Sempre atrás do vil metal
Desatentas a todo mal
Que lhama, guanaco, condor
Sofrem co’a morte, co’a dor
Tolo desprezo ao vital.

Sei que o homem é capaz
De abdicar desse ouro e cobre
Que só à beleza se dobre
E deixe os Andes em paz
Que na estrada o leva-e-traz
Seja do encanto da Cordilheira
Do rio, de sua corredeira...
Eis sua riqueza, o maior valor!
Um sonho, um pensar, um pendor
De gente também sem fronteira!
Bait'abraços a todos!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fotos do dia 20/11 (Uspallata)

Buenas, pessoal!
Continuo postando as fotos que não puderam compor os textos (sempre por falta de um sinal adequado de Wi-Fi).
Essa série é do dia 20 de novembro, quando percorri o trecho entre Los Potrerillos e Uspallata.

Adoro essa foto! Está quase tudo ali: céu, sol, montanhas, estrada, bicicleta, eu, e um guard-rail para não despencar no abismo do Rio Mendoza... Só faltou a neve!


O Rio Mendoza, que nasce da confluência de diversos pequenos rios (Cuevas, Vacas, Polvaredas), todos originados no degelo. Como este ano nevou pouco, o rio está baixo e já há racionamento de água em Mendoza. O Dique Chipollet só abre suas comportas algumas horas por dia.

O que há de mais fantástico na Cordilheira: a água mais pura do Planeta! Desse arroio que aparece na foto (como de tantos outros) peguei água para beber, e é tão gelada que as mãos doem se ficam muito tempo nela mergulhadas. Tem grande concentração de minerais e um gosto completamente diferente de qualquer água que já tomei. É impressionante como a gente se sente bem sorvendo-a!

Um dos 15 túneis que há na subida da Cordilheira. Alguns em curva, um em "S", nenhum iluminado, era um risco atravessá-los, porque não há banquina (acostamento). Não sei quem se assutava mais quando um caminhão cruzava por mim dentro deles: se eu ou o motorista das carretas....


O "catarina" Tadeu Silva, funcionário da Cerâmica Portobello, que resolveu botar meu capacete e posar para uma foto como se tivesse pedalado até Uspallata. Rimos a valer da sua ideia.
Detalhe: é ciclista também. Talvez por isso tenha se identificado tanto e se armado de coragem para colocar um capacete fedorento e suado na cabeça...


Bait'abraço a todos!

Fotos do dia 19/11 (Los Potrerillos)

Buenas, pessoal!
Conforme o prometido, passarei a postar fotos dos dias em que a falta (ou baixa intensidade) do sinal Wi-Fi impediu sua inserção nos textos.
Começo com o dia 19/11/2010, quando percorri o trecho de Mendoza a Los Potrerillos.

A água das Cordilheiras é completamente azul! Esse é o dique Chipollet, que abastece a cidade de Mendoza.




Os gaúchos Darlan e Álvaro, que souberam, em Rio Cuarto (muitos quilômetros antes), que eu estava subindo a Cordilheira. Quando me viram, pararam para conversar. Umas figuraças!


O lago de águas turmalinas que enxerguei quando estava pedalando a 2000m de altitude, mas que, para alcançar, tive que baixar a 1200m.



Eu, "turista contemplativo", à beira do lago. Que momento!



Os novos amigos argentinos, Rose, Alberto, Patrícia e Suzana, que provocaram um dos momentos mais emocionantes de toda a viagem. Choramos a valer! Que coisa!


Bait'abraço a todos!

Turista!

Buenas, pessoal!
Foi um dia muito atípico!
Não precisei acordar cedo, não precisei pedalar, consegui almoçar no horário normal, tirar uma sesta até às 15h, e ainda caminhar tranquilamente pela cidade em que me hospedei.
Tudo por conta da minha chegada em Santiago.
Explico: minha esposa chegará à capital chilena na 6ª-feira à tarde. E o nosso vôo para casa está marcado para as 08h da manhã de domingo. Com a conexão no Aeroporto de Guarulhos (São Paulo), a previsão de chegada em Porto Alegre é lá pelas 17h do dia 28.
Com isso, resolvi prorrogar minha estada em Los Andes. É uma cidade muito tranquila, com 60.000 habitantes, estou a 100 km de Santiago - um dia de pedalada -, e, com o convite que recebi de pararmos na casa de uma brasileira que mora na capital, senti-me constrangido de lá chegar praticamente 5 dias antes do retorno. Um visitante altera bastante a rotina de uma casa. Tenho essa consciência, ainda mais que não é período de férias.
Aí, virei turista: fotos pra cá, fotos prá lá, visitei a Praça de Armas e a Feira do Livro que está acontecendo nesse local...







... a Igreja Matriz da cidade (onde botei as orações e os agradecimentos em dia)...



... e amanhã pretendo visitar o Museu Arqueológico bem como o Monastério onde estava reclusa Santa Tereza de Los Andes, Padroeira da República do Chile.


A dor nos meus joelhos ainda não passou. Estão tão enrijecidos do esforço dos últimos dias que tenho feito diversas sessões de alongamento para ver se relaxo a musculatura.
E estou ficando mimoso também: fui num supermercado e comprei um creme hidratante. Vê se pode... Mas é que estou tão apavorado com o estado da minha pele nos braços, pernas e nuca, que resolvi dar uma colaborada na recuperação. Pareço um peixe!
A Cordilheira está ali, ao fundo da cidade de Los Andes. E como Santiago fica para o Sul, terei a companhia das montanhas por mais um dia sobre a bicicleta. Apesar de todo o esforço dos últimos dias, contudo, tenho que reconhecer que já estou lamentando o fato de não poder retomar a pedalada em meio àquela maravilha da natureza!
Ainda mais por saber que, enquanto cruzava o Túnel do Cristo Redentor, ontem, os motociclistas gaúchos Darlan e Álvaro, que encontrei em Mendoza, e que estavam retornando para o Brasil, pegaram neve enquanto aguardavam a documentação na Aduana Argentina. A 15km de onde eu estava! Fizeram um comentário muito interessante na postagem de ontem, sobre a condição climática que enfrentaram na volta.
A Cordilheira é isso: uma surpresa atrás da outra. Inclusive neve em novembro...
Talvez por isso exerça todo esse fascínio que não canso de propalar!
Bait'abraço a todos.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Chile!

Buenas, pessoal!
Foram quase quatro anos acalentando um sonho!
Este ano de 2010 inteiramente dedicado ao planejamento e à preparação.
Os três últimos meses somente para dar forma ao projeto.
Quantos badulaques adquiridos, quantas pedaladas nos finais de semana, quantas noites em claro enchendo e esvaziando os alforjes, quantas revisões na lista de pertences, quantas corridas ao Banco, quantas moedas guardadas para trocar por dólares, quanta mentalização!
Hoje, olhando para trás, dou-me conta de que tudo valeu a pena! E como valeu! Chegar ao alto transitável da Cordilheira dos Andes, a 3185m de altitude, tracionando minha valente bicicleta somente com a força das minhas pernas e com minha inabalável determinação – não pretendo me envaidecer afirmando isso –, foi a recompensa maior por todos os percalços e todas as dificuldades pelas quais passei desde que, em 2007, fazendo esse mesmo trajeto de automóvel, em férias com minha família, disse para mim mesmo: “Um dia, vou cruzar a Cordilheira dos Andes de bicicleta!”
Sair de Los Penitentes às 07h da manhã, com temperatura na casa dos 5ºC, bermuda e duas camisetas de manga curta, foi o primeiro teste do dia. Mas tinha que ser assim: mais roupa, mais umidade retida, mais enregelado ficaria.
E pegar a estrada para, somente nos primeiros dez quilômetros, já subir a 2800 metros, em Puente del Inca, só veio temperar ainda mais este último dia na Cordilheira dos Andes!
Quanto mais subia, mais me doíam os joelhos... Era como se eu nunca tivesse pedalado na vida. Minhas mãos estavam completamente congeladas, e todos os ferros da bicicleta pareciam pedras de gelo.
A falta de ar obrigava-me a incontáveis paradas: era o tempo de tomar água, recuperar o fôlego, olhar para frente (ou melhor, para cima) e retomar o giro do pedivela.

O dia nublado não permitiu que o sol desse as caras até às 10h, e gerou em mim uma das maiores frustrações de toda a viagem: o Cerro do Aconcágua permaneceu completamente coberto por densas nuvens, durante a quase uma hora em que lá fiquei, tentando fotografar seu cume nevado. Não houve jeito: os Andes cobram um preço alto de quem se atreve a desafiá-lo, e, se sabe vergado, apronta. Esconder o Aconcágua foi sua vingança...

Na chegada ao Túnel do Cristo Redentor, pus-me a repetir, desnorteado: “Eu consegui! Eu consegui!”
Cruzei essa imensa ferida de 3,5km de extensão, aberta nas entranhas dos Andes, em cima do carro-socorro, e aproveitei a oportunidade para gravar um vídeo que resume toda essa epopéia. Fazia 9ºC. Era meio-dia.

Do outro lado, a República do Chile!
E um dos trechos mais fantásticos de toda a viagem, a descida dos “Caracoles”, 29 curvas que me fizeram baixar 700 metros em meia dúzia de quilômetros! Que momento espetacular! Mereceu outro vídeo muito especial!

Depois de mais 40 quilômetros de uma descida surpreendente, cheguei em Los Andes, a 650 metros acima do nível do mar. De 3150 para 650 em apenas 70 km! É de ficar estarrecido! Ainda mais se esse trecho é vencido em cima de uma bicicleta...
E faz calor em Los Andes, rsrsrs... Meu Deus, como é bom o calor!
Resolvi não pedalar amanhã. Vou providenciar na chegada da minha esposa a Santiago, para que possamos, até o final de semana estar em casa.
Claro, tenho ainda 100 km para percorrer. O desafio não terminou. Mas acho que o pior já passou, eh, eh, eh...
Eu consegui! Eu consegui!
Bait’abraço a todos!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Os Andes se dobrarão!

Buenas, pessoal!
Leiam o texto abaixo como se tivesse sido postado ontem (21/11). Falta de rede Wi-Fi em Los Penitentes, Argentina, não permitiram o lançamento no blog.

"Outra vez, não tenho possibilidade de postar, no blog, o dia de hoje. Por isso, escrevo para deixar registradas as impressões deste dia memorável!
Os Andes se dobrarão à minha persistência!
Mas cobrarão um preço muito alto para me permitirem cruzar!
O que vivi hoje foi tão intenso que deixará marcas não só no corpo, como na alma e no espírito!
Febre alta, dor de ouvido, escamação total de pernas e braços, feridas nos lábios, dores articulares, são alguns dos inúmeros problemas físicos que enfrentei, muitos surgidos no dia de hoje.
Mas nada, nada me impediu de continuar! Nem mesmo os 40 km de subida, até a chegada em Los Penitentes, a 2600 metros de altitude, nem mesmo o vento de 50 km/h, batendo na frente da bicicleta, pareceram obstáculos intransponíveis.

Não me perguntem de onde veio a força (física e mental). Não sei. A cada nova subida, muitas vezes constituída de 5 km sem um momento sequer de alívio, só pensava que era apenas mais um trecho rumo ao topo! Metro após metro.
Alternei tantas vezes a altitude da pedalada, entre os 2000 e os 2500 metros, que bloqueei qualquer outro pensamento que não fosse: continua, continua, CONTINUA!

Os Andes se dobrarão à minha persistência!
Mas prepararam a arena para a luta que se travou durante todo o dia!
Não sei como descrevê-la: mesclem o pior “nordestão” do litoral gaúcho, a 8ºC – temperatura registrada em Uspallata às 07h da manhã –, à subida da serra de Salvador do Sul, não por 16, mas por 40 km, a uma bicicleta com pneu balão pesando 150kg (comigo junto).
Foi isso! Resumidamente, foi isso!

Há anos, muitos anos mesmo, não usava a relação coroa/pinhão 1-1 e 1-2 da bicicleta. Hoje, ao divisar cada nova subida, já cambiava para iniciar com essas marchas, porque sabia que seria assim, por 01 hora, 01 hora e meia, a 5km/h, quase sendo derrubado pelo vento!
Na última subida, de 7km, exaurido, apeei da bicicleta e me pus a caminhar, empurrando-a. Somente da água que coletei nos arroios – água puríssima, geladíssima, água do degelo – bebi. Foi o alimento que me manteve consciente, lúcido, focado. Água recheada de minerais. A água mais pura do mundo!
Os Andes se dobrarão à minha persistência!
Mas deixarão para o último dia de subida o desafio maior: a chegada a Las Cuevas, a apenas 20 km de distância, porém 500 metros mais para cima, para bater na casa dos 3.100 metros de altitude!
Os Andes querem coroar o maior esforço mental que já fiz em toda a minha vida, mas exigirão o ápice!
Amanhã! Amanhã...

Já é noite na Cordilheira. Tomo banho, janto, e saio para caminhar na beira da Rodovia. Quero me afastar das luzes artificiais para apreciar a beleza das montanhas. A lua cheia está escondida atrás dos altos montes, mas seu clarão aos poucos vai se refletindo no Cume Tolossa, ao sopé do qual Los Penitentes nasceu. 5500 metros de altitude!
Passa um avião, em direção a Santiago. Só vejo suas luzes. Parece próximo.
Como as estrelas. As que sobreviveram ao clarão da lua estão tão perto que penso em levantar as mãos para tocá-las. Estou perto do céu. Estou no céu.
O Aconcágua já está para trás, mas as montanhas não me permitem enxergá-lo. Somente amanhã o verei, a 30 km de distância, um colosso de pedra e neve que preenche a paisagem, mesmo a distância tão grande. Para trás já ficou o Tupungato, com seus 6600 metros, tão gigantesco quanto o Aconcágua, tão magnífico que levo um choque quando o vejo, numa curva da estrada, em Punta de Vacas. Escapa-me um “uau!” e paro a bicicleta para permitir que flua a emoção daquele momento.
Os Andes se dobrarão à minha persistência.
Se dobrarão!
Bait’abraço a todos!

sábado, 20 de novembro de 2010

O topo da Cordilheira dos Andes cada vez mais próximo!

Buenas, pessoal!
Sentado no hall de entrada de um Hotel em Uspallata, por alguns instantes tento organizar meus pensamentos, para começar a escrever.
10h da manhã: Ricardo, cicloturista uruguaio, mas que viveu em Santa Maria por anos. Falar português, que maravilha (para ambos)! Seguia de Uspallata para Mendoza! Já sabia que eu estava subindo, porque os motociclistas que eu encontrei ontem fofocaram para ele que um gaúcho estava chegando.
Meio-dia: três ciclistas argentinos de Mendoza. Estão indo de lá para Viña del Mar, no Chile, na estrada por três dias! Subir alguns quilômetros juntos, compartilhando experiências! Que bárbaro! Foi muito engraçado ouvi-los chamar-me de "Pablo". "Fuerza, Pablo!"
01h da tarde: um casal de ciclistas, descendo para Mendoza, um aceno, um adeus, um "buena viaje", e seguem seu caminho.
16h, no Hotel: um ciclista nova iorquino estende suas roupas recém lavadas ao lado do meu quarto. Não fala uma palavra em espanhol, anda com o dicionário debaixo do braço! "A circle in street, than can i do eat?" Acho que foi isso que ele perguntou, querendo saber se depois da rótula havia um restaurante.
17h, no Hotel: um casal de holandeses estaciona as bicicletas, procura um quarto com cama de casal, não há mais, arriscamos um inglês espanholado, ou um espanhol inglesado, conversamos por meia-hora, seguem seu caminho procurando outro hotel. Aperta minha mão com força e segurança. É gente do bem. Sua esposa só exclama: "yea, yea, yea!" Que gente destemida!
18h: um jovem norte-americano, viajante de ônibus, tenta acessar a internet no saguão do hotel, não consegue, iniciamos a conversa, consigo arranhar um inglês sofrível, me faço entender, ele se esforça no espanhol, conta-me boa parte da sua aventura. Faz questão de me dar um "bye" quando sai para caminhar.
19h30min: o nova iorquino faz um novo desenho para o recepcionista que, totalmente perdido, só ri. Nem concorda, nem discorda...
Isso aqui é uma Babel, pessoal!

E a chegada em Uspallata?
Foram incontáveis subidas e descidas, mas eu estava consciente de que estava pedalando para o alto, e muito, porque o caudaloso Rio Mendoza fazia ecoar nos paredões das montanhas o rufar de suas corredeiras. E se há corredeiras, há desnível. E se há desnível, estou subindo, estou subindo!
Cordilheira de muitas cores, de muitas formas, que lentamente vai deixando de ser areia e pedra para virar blocos de rocha nua.
Vi os primeiros picos nevados ainda em Los Potrerillos, onde pernoitei. Quase caí para trás quando meu hospedeiro disse-me que estavam a 180 quilômetros de distância. Dá para imaginar o que seja isso? Parecia que a 10 quilômetros cruzaria por elas! É tudo inacreditável!
Desse mesmo hospedeiro, ganhei uma carta de recomendação para quando cruzar por Los Penitentes, Punta Vacas, Puente del Inca e Las Cuevas. Conhece os donos de hospedagens e de restaurantes. E dele ganhei também uma bíblia, em espanhol, para que não me esquecesse mais de que ele gostara muito de mim. E me fez prometer que, no dia em que cruzar por Los Potrerillos, entraria para visitar sua família (esposa e dois filhos adolescentes) e lhe proporcionar um dia inteiro de boa conversa. Deu-me, ainda, folhas de um chá para indisposição estomacal, se fosse necessário!
Claro que furou um pneu novamente. Foi murchando devagarinho, devagarinho, consegui ainda chegar em Uspallata. Retirei os alforjes, levei a bicicleta a uma oficina, o mecânico não só consertou o furo como ainda trocou o pneu traseiro (estava bom ainda, mas não aguento mais remendar câmaras) e lubrificou todo o sistema de correia e cassetes. Ao preço de... $ 15 pesos (ou R$ 7,00). Não concordei, dei $ 20 pesos em consideração ao seu excelente trabalho. Pediu-me, então, que publicasse o nome da Oficina para que, se um dia algum cicloturista passasse por Uspallata, fosse visitá-lo. Aí vai a promessa cumprida: Eduardo Cignacco, START BIKE. Vale a pena conhecer sua oficina! O cara é galo!
E um "catarina", que viu minha bicicleta parada no restaurante, ao meio-dia, pediu-me licença para tirar uma foto com o meu capacete (super fedorento!), como se tivesse chegado pedalando? Esposa, e outros companheiros de viagem, se mataram de tanto rir! E fotos tiradas para guardar o momento!
Nevou semana passada na Cordilheira! E hoje um vento terrível está assolando Uspallata! Como será amanhã? Disseram-me que terei subidas medonhas, que o Aconcágua já está próximo, e que terei que proteger a garganta para aguentar o frio que está fazendo!
Acho que, na verdade, o desafio nem começou ainda!
Ah, amanhã bato meu recorde de viagens de longa distância de bicicleta. Já percorri 2.150km, e, quando passar de 2.170,9 km (distância que percorri até Brasília, em 2006), essa será a nova marca (a ser superada, claro, eh, eh...)
A internet "fraca" não está permitindo postagens de fotos. Assim que der, elas virão, prometo.
Bait'abraço a todos!

Sua Majestade, a Cordilheira!

Buenas, pessoal!

Leiam esta postagem abaixo como se tivesse sido postada ontem. Foi tudo tão mágico, que preferi escrever ontem mesmo e aguardar disponibilidade de Wi-Fi para publicar no blog.

"Mesmo não tendo rede Wi-Fi disponível onde estou hospedado (na localidade de Los Potrerillos, um distrito de Lujan de Cuyo), por todas as sensações que tive hoje, achei melhor deixar registrado num Arquivo Word como foi meu dia para, na primeira oportunidade possível, postar no Blog, com as fotos correspondentes.
Estou no interior da Cordilheira dos Andes! Cumprindo um roteiro tipo “Plano B”, sim, mas pedalando entre as montanhas de pedra e areia!
Saí de Mendoza às 07h30min disposto a percorrer os 120 km que me separavam de Uspallata, mesmo sabendo que seria morro acima.
Contudo, devido ao forte vento contra, três horas depois, sem ter ingressado na Cordilheira propriamente dita, havia percorrido não mais do que 35 km! Mas era evidente que estava subindo, de forma constante e penosa. Não conseguia impor ritmo à pedalada!
Ainda nesse trecho, dois motociclistas se aproximaram, um deles passou por mim, mas o outro foi reduzindo a velocidade, reduzindo, até andar no meu ritmo. Numa Hornet 600 a 10 por hora! Perguntou-me de onde eu vinha e, quando lhe respondi “de Porto Alegre” (larguei de mão de dizer que sou de Montenegro, porque ficam meia-hora perguntando onde fica), ele disse que tinha ouvido falar de mim num restaurante em Rio Cuarto! Vê se pode uma coisa dessas!
Resolvemos parar, o outro motociclista retornou, e iniciamos um divertido bate-papo na beira da Rodovia. Eles são o Álvaro Assunção, de Porto Alegre, e o Darlan Schenkel, de Canoas. Aí eles me contaram que pararam em um restaurante, e lá o atendente disse que dias atrás havia passado um brasileiro que estava indo de bicicleta para o Chile. Quando me viram, não tiveram dúvida de que eu era o tal que havia passado em Rio Cuarto. Que coincidência, não?
Outra coincidência: o Darlan é primo do Marcelo Schenkel, “seguidor” deste blog, e seus pais nasceram em Brochier, quando esta cidade era distrito de.... tcha-na-na-nam: Montenegro! Tá louco...
Os dois despediram-se de mim prometendo que, na volta, se me encontrassem, parariam novamente para contar como foi a travessia da Cordilheira de moto! Que legal, né?
De repente, bem no sopé da montanha, a rodovia embicou! E aí, não parei mais de subir! Foram 20 quilômetros nas marchas 1-3, 1-4 ou 1-5 (relação coroa/pinhão da bicicleta)! Nunca mais do que isso! Gente do céu, que sufoco! A velocidade variava entre 7km/h e 10km/h. E fazia tanto frio, em plena hora do meio-dia, que coloquei outra camiseta (de algodão) por baixo da que estava usando, já que o vento estava gelando meu suor e gerando um tremendo desconforto!
Mas a paisagem que ia se descortinando a cada curva, a cada nova subida, pagou todo o esforço! Não é possível descrever este lugar! Nem tentarei! É tão exuberante o cenário que esqueci-me do cansaço, do esforço, das dores...
Creiam-me, subindo aquele trecho danado, peguei-me muitas vezes rindo e dizendo para mim mesmo: “Estou pedalando na Cordilheira”!
E assim como fui obrigado a vencer essa subida terrível, vi-me presenteado com algo que não esperava: uma descida vertiginosa, em direção a um lago de água turmalina, formado a partir do degelo da neve das montanhas! A bicicleta despencou lomba abaixo, atingindo a velocidade de 54km/h! Que emoção! Resolvi usar os freios, pois uma pedra, um desequilíbrio, poderiam trazer conseqüências bem graves. Preferi não arriscar.
Aí, novamente uma subida!
Bem, já havia feito 65km, passava das 13h, estava cruzando o acesso à localidade de Los Proterillos, resolvi procurar um restaurante e, se houvesse hospedagem, dormir por ali mesmo. Total, não teria condições de percorrer mais 60km, morro acima, até Uspallata, sem um severo e desnecessário desgaste físico.
Assim foi: encontrei um quarto numa casa de família (que também tem um barzinho onde serve almoço e janta), e aí me alojei.
Aproveitei, então, o resto da tarde para caminhar pela beira do lago, tirar muitas fotos, ser turista por umas horas...
Na volta ao restaurante, 4 argentinos de Buenos Aires chegaram procurando algo para comer, viram a bicicleta toda carregada, a conversa fluiu, e daqui a pouco éramos uma única roda de animada e interessante conversa. Foi tão simbiótico esse encontro que, na despedida, o Alberto, sua esposa Rose, a cunhada Suzana e a amiga Patrícia fizeram questão de presentear-me com algo. Ganhei uma caixa com soro granulado, específico para casos de desidratação (e sei que estou sujeito a isso), e, da Patrícia, retirada de sua própria carteira, uma imagem de São Jorge! Não pela imagem em si, mas pelas palavras ditas (“de que essa imagem lhe era muito cara e me entregava para que eu permanecesse protegido e voltasse para casa em segurança”), e também por toda a aura positiva que envolve este lugar abençoado, foi um momento muito emocionante! Ninguém preocupou-se em conter as lágrimas, que caíram abundantes, a regar um pouco mais esta terra que só gera beleza e magia. Que encontro!
Na praça do lugar, lendo uma placa, descobri que já estou a 1.230 metros de altitude, e que a interminável subida me levou a 2.000 metros (por isso do vento gelado!), antes da fantástica descida. Em 30 quilômetros, entrei num outro mundo, gente!

Bait’abraço a todos!"
Não estou conseguindo postar fotos, porque a Internet é compartilhada. Lamento, de verdade! Mas, assim que obtiver um sinal compatível, postarei somente fotos para que vocês tenham uma pequena ideia do que é isso aqui!!!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Dormirei aos pés da Cordilheira!

Buenas pessoal!
Esta é a segunda postagem de hoje. Já postei outra momentos atrás, que trata da minha passagem, ontem, por La Paz (não havia Wi-Fi no Hotel).

É, quem diria que, 18 dias depois de partir de Montenegro, a 2.035 km de distância, hoje dormiria aos pés da Cordilheira dos Andes, na cidade de Mendoza, oeste argentino?
Pois é...
Cá estou eu, olhando da janela do quarto do Hotel o céu dos Andes, domínio do condor, onde os incas construíram Machu Pichu, onde as neves eternas desafiam pessoas, onde o Aconcágua reina soberano, com seus 6.969 metros de altitude, como o ponto mais alto das Américas...
Cá estou eu, sentindo-me um ninguém diante da majestosidade da Cordilheira, tentando entender como a natureza conseguiu edificar esse colosso...
Cá estou eu, pasmo e boquiaberto! Os Andes estão ali, a poucos quilômetros de distância!
Os Andes, que esperam por mim a partir de amanhã, e nos próximos 5 dias, para a mais fantástica travessia que já fiz na minha vida!
Cá estou eu, coração aos saltos, imaginando como será sair do seu sopé para chegar aos 3.800 metros de altitude, na Estátua do Cristo Redentor, divisa da Argentina com o Chile! De bicicleta!
Cá estou eu, realizando um sonho por anos acalentado!

Não é possível descrever a Cordilheira! A 110 km de distância (isso mesmo: cento e dez quilômetros!) já divisava no horizonte os picos gelados dos Andes!
Tirei uma sequência interminável de fotos! A cada 5 km, parava a bicicleta e registrava o que via! Inóquo, porque a câmara jamais teria condições de reproduzir o que meus olhos enxergavam!



O que me entristeceu foi que, à medida que me aproximava de Mendoza, a nebulosidade foi aumentando sistematicamente. O tempo armou-se para a chuva, e os grandes picos nevados sumiram-se atrás das nuvens... Cheguei a temer que fosse me molhar antes de localizar um Hotel. Mas, até agora, noite escura já, não caiu uma gota d'água.
Enquanto isso, vá pedal! E, assim, bati na casa dos 2.000 km percorridos, 35 km antes de chegar a Mendoza! Vale o registro.


Na entrada da cidade, uma saudação bem sugestiva, pelo menos para mim, que estou bastante suscetível a tudo que diga respeito à Cordilheira, eh, eh, eh...



Antes de ir dormir, vi que o tempo lentamente voltou a abrir, e corri para a rua para tentar tirar mais fotos da Cordilheira. Todavia, a quantidade de edificações, árvores, e a falta de um lugar mais alto, não permitiu boas tomadas.



Por já ter passado de carro por aqui há quase 4 anos atrás, sei que essa primeira cadeia de montanhas é também uma "sierra". Terei que entrar na Rodovia em direção a Uspallata para enxergar os primeiros monumentos de pedra, que me acompanharão, então, por mais de 300 km.
Ah, continuo fazendo amigos: estourou um raio da roda traseira da bicicleta, justamente do lado do cassete de pinhões, e preferi procurar uma oficina de bicicleta a ter que desmontar a roda no quarto do Hotel. Não só fui cair numa das maiores lojas de Mendoza, como o dono, Sérgio Ambrosi - que periodicamente faz a travessia dos Andes de bicicleta e me deu um monte de dicas - determinou ao seu funcionário que consertasse a roda, sem custo algum! Ainda me deu um chaveiro de recordação pela minha passagem por sua loja! É incrível como o ciclismo consegue aproximar pessoas!
Amanhã, Uspallta, 130 km "morro acima"! Me desejem sorte e perseverança!
Bait'abraço a todos!

Reta sem fim!

Buenas pessoal!
Esta é a primeira das duas postagens que hoje faço, por conta de que, na cidade onde pernoitei ontem, La Paz, não havia Wi-Fi.
Saí de San Luís com o propósito de vencer em dois dias o trecho de 275 km entre essa cidade e Mendoza.
Já na primeira curva após o fim do perímetro urbano, uma grande surpresa! Estava diante de uma paisagem única! Por conta da topografia da região - uma grande planície -, estendia-se à minha frente uma inacreditável reta de 45 quilômetros de extensão, totalmente visível a olho nu!
Mas como isso seria possível?
É que a primeira parte desse trecho - cerca de 25 km - corresponde a um leve declive, quase imperceptível. Após, inicia-se uma leve subida, de 20 km, ou seja, pode-se enxergar toda a sua extensão, de uma ponta à outra! Lembrando que a "linha do horizonte" (na verdade, o horizonte oceânico), é de 14km, por conta da circunferência da Terra, esse deve ser um dos trechos de rodovia mais extensos visíveis a olho nu do mundo! Tirei foto do km 1, do km 15, do km 30, e do km 45, e não podia acreditar no que o ciclocomputador registrava!
Sem dúvida, essa região deve ser toda vista de forma superlativa!



Seguindo viagem, encontrei outra homenagem a um planeta do Sistema Solar. Se anteontem fotografei Júpiter (aquele "negócio" que, embora tendo nome, ainda não defini se era um monumento, uma estátua, uma escultura), hoje foi a vez de Saturno (bem mais parecido com o original). Será que, até o final da viagem, encontrarei os outros? rsrsrs



La Paz, a cidade onde pernoitei, já pertence à Província de Mendoza (a sexta que cruzei: Corrientes, Entre Rios, Santa Fé, Córdoba, San Luís e, agora, Mendoza). Nas "divisas", cada Província propagandeia seus méritos, e foi assim que encontrei a divulgação de que "San Luís" é esporte. Só se for porque eu estou passando, porque não vi nenhum ciclista na Rodovia, a não ser os operários indo de bicicleta para o trabalho... Assim, aproveitei para me incluir no painel!



E Mendoza propagandeia, inclusive no Pórtico de entrada, ser "la tierra del sol y del buen vino". Para quem gosta, sem dúvida essa Província tem muitos atrativos na área da gastronomia e dos vinhos finos, conhecidos mundialmente. Oliveiras, então, são brejo por aqui!


Os fatos que se sucederam em La Paz quase me levaram ao primeiro "acampamento" da viagem. No primeiro Hotel que cheguei, indicado por um frentista, não havia mais quartos. No segundo, a porta estava chaveada, toquei o interfone, perguntei se havia "habitación", uma mulher gritou "No!" e desligou-o - só depois percebi que estava violando o horário sagrado da siesta, onde a Argentina simplesmente TODA dorme -, no terceiro fiquei plantado na frente esperando alguma alma cruzar pelo caminho, e nada, resolvi voltar para o Posto onde o frentista me havia indicado o primeiro. Ele, então, vendo minha situação, gentilmente se pôs a ligar para um número, pediu-me que fosse para os fundos do Posto, onde havia uma sombra boa, descansar, enquanto ele continuaria tentando localizar o dono do terceiro hotel. Resumo da ópera: dormi uma hora sentado num banco de concreto (devo ter até roncado, porque, quando acordei, nem passarinhos havia mais pela volta).
Mas o empenho do rapaz surtiu efeito e às 18h consegui um quarto para passar a noite. Ao preço de $ 100 pesos (uns 45 pilas, caro para esta região, mas o dono do hotel viu que eu não tinha escolha, ou teria que armar minha iglu debaixo de um cinamomo). Enfim, dormi bem, isso é que foi o mais importante.
Estou me aproximando dos 2.000 km percorridos e mantendo a média de 130km por dia.
A chegada em Mendoza, conto na outra postagem.
Bait'abraço!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Uma "palhinha" da Cordilheira

Buenas, pessoal!
Agora sim, há morros de verdade, eh, eh...
Estou em San Luís, capital da Província do mesmo nome, cidade de quase 200 mil habitantes que cresceu no pé de uma cadeia de montanhas muito bonitas.
É uma formação geológica deveras interessante. Do nada, surge essa "sierra", de altura considerável - já as divisava no horizonte a 40 km daqui -, e não tem árvores, afora um ou outro arbusto. Tudo é grama e pedra. Essa "sierra", segundo informou-me a recepcionista do Hotel, tem muitos donos, proprietários de chácaras, quintas e fazendas, nas quais se criam ovelhas e cabras (também, pudera, só animais assim para escalarem esses peraus!). É um tira-gosto da Cordilheira dos Andes, que deve surgir à minha vista a partir de quinta-feira.


Vinte quilômetros antes da cidade, na Rodovia, há um pórtico (ou será um monumento? Ou uma escultura? Sei lá! É isso aí que vocês estão vendo!), chamado "Júpiter". Boa parte da sua estrutura superior é de vidro colorido, e, ao fim da tarde, sob os raios do sol, gera um efeito visual bem bacana. Como estava na hora do descanso, aproveitei para "me fotografar" debaixo do... debaixo da... debaixo daquilo!



Agora, tenho que confessar: um dos maiores choques que tomei desde que ingressei na Argentina foi o gastronômico! É tudo diferente! Quando descobri que "pasta" era massa, por dias a fio só pedi "pasta" (ravioli, nhoque, macarrão). Na dúvida, preferia não arriscar.

Com o passar dos dias, constatei que a famosa "parrilla" argentina tem muitas variações: se pedir apenas"parrilla", vem uma "costilla" (costela) do tamanho de um pastelão, e, dependendo da boa-vontade do garçon, uma morcela assada ou um pedaço de linguiça (em torno de $ 20 pesos, ou R$ 8,00). Se, porém, pedir uma "parrilla" de vazio, bom, o tamanho é o mesmo, mas o preço pode subir para até $ 35 pesos (R$ 15,00). Todas carnes que se desmancham, de maciez incomparável.
E há também a "milanesa" (a nossa famosa "A la minuta"). A diferença é que não vem arroz, não vem feijão, e não vem ovo frito. Em lugar disso tudo, "papas" (batatas fritas) e... pão! Um fartão de pão! Aqui, se come pão até com "pasta", ou seja, depois de devorar a massa, "limpa-se" o prato com o pão. Não sei como o castelhano não é mais gordo.



E esse mostrengo aí embaixo é uma espécie de plantadeira, que transita pela Rodovia a 80 km/h! Se vocês repararem, está rebocando dois vagões, que são um tanque e uma casinha móvel. É um comboio que passa à toda, como se fosse um carro. Conversei com o motorista de uma dessas geringonças e ele me disse que estava parado na beira da estrada, esperando o dono da terra chegar para abrir a porteira. No ar-condicionado e ouvindo música no rádio do "veículo". Que tal!
E olhem a altura da máquina! Precisa-se de uma escada para subir na cabina!


A surpresa desagradável do dia foi mais um pneu furado. Me roncou nas tripas que o dia estava tranquilo demais: tempo bom, pouco calor, vento a favor, somente 100 km para pedalar de Villa Mercedes a San Luís, ai, ai, ai, ai, ai...
Batata! A 10 km do meu destino, a bicicleta começou a balançar sugestivamente. Nem me abalei: já fui parando, pegando os petrechos de troca e providenciando no conserto. Pelo menos fiz isso com uma paisagem deslumbrante ao fundo! O responsável pelo furo foi um caco de vidro. Realmente, esses pneus que eu botei para a viagem estão deixando muito a desejar: possuem pouca borracha, os cravos (garras) são muito juntos, o que permite que pedras, espinhos e cacos de vidro se alojem entre eles. Com o peso da bicicleta, basta uns poucos metros para que eles perfurem a borracha e consumam o crime. Já foram, agora, 10 trocas, um absurdo para uma viagem de apenas 1750 km até agora.
Amanhã, pretendo chegar em La Paz, na metade do caminho entre aqui (San Luís) e Mendoza.
O bom é que a chuva, pelo jeito, se foi (deve estar chegando no Rio Grande do Sul, rsrsrs).
Bait'abraço a todos!