terça-feira, 23 de novembro de 2010

Chile!

Buenas, pessoal!
Foram quase quatro anos acalentando um sonho!
Este ano de 2010 inteiramente dedicado ao planejamento e à preparação.
Os três últimos meses somente para dar forma ao projeto.
Quantos badulaques adquiridos, quantas pedaladas nos finais de semana, quantas noites em claro enchendo e esvaziando os alforjes, quantas revisões na lista de pertences, quantas corridas ao Banco, quantas moedas guardadas para trocar por dólares, quanta mentalização!
Hoje, olhando para trás, dou-me conta de que tudo valeu a pena! E como valeu! Chegar ao alto transitável da Cordilheira dos Andes, a 3185m de altitude, tracionando minha valente bicicleta somente com a força das minhas pernas e com minha inabalável determinação – não pretendo me envaidecer afirmando isso –, foi a recompensa maior por todos os percalços e todas as dificuldades pelas quais passei desde que, em 2007, fazendo esse mesmo trajeto de automóvel, em férias com minha família, disse para mim mesmo: “Um dia, vou cruzar a Cordilheira dos Andes de bicicleta!”
Sair de Los Penitentes às 07h da manhã, com temperatura na casa dos 5ºC, bermuda e duas camisetas de manga curta, foi o primeiro teste do dia. Mas tinha que ser assim: mais roupa, mais umidade retida, mais enregelado ficaria.
E pegar a estrada para, somente nos primeiros dez quilômetros, já subir a 2800 metros, em Puente del Inca, só veio temperar ainda mais este último dia na Cordilheira dos Andes!
Quanto mais subia, mais me doíam os joelhos... Era como se eu nunca tivesse pedalado na vida. Minhas mãos estavam completamente congeladas, e todos os ferros da bicicleta pareciam pedras de gelo.
A falta de ar obrigava-me a incontáveis paradas: era o tempo de tomar água, recuperar o fôlego, olhar para frente (ou melhor, para cima) e retomar o giro do pedivela.

O dia nublado não permitiu que o sol desse as caras até às 10h, e gerou em mim uma das maiores frustrações de toda a viagem: o Cerro do Aconcágua permaneceu completamente coberto por densas nuvens, durante a quase uma hora em que lá fiquei, tentando fotografar seu cume nevado. Não houve jeito: os Andes cobram um preço alto de quem se atreve a desafiá-lo, e, se sabe vergado, apronta. Esconder o Aconcágua foi sua vingança...

Na chegada ao Túnel do Cristo Redentor, pus-me a repetir, desnorteado: “Eu consegui! Eu consegui!”
Cruzei essa imensa ferida de 3,5km de extensão, aberta nas entranhas dos Andes, em cima do carro-socorro, e aproveitei a oportunidade para gravar um vídeo que resume toda essa epopéia. Fazia 9ºC. Era meio-dia.

Do outro lado, a República do Chile!
E um dos trechos mais fantásticos de toda a viagem, a descida dos “Caracoles”, 29 curvas que me fizeram baixar 700 metros em meia dúzia de quilômetros! Que momento espetacular! Mereceu outro vídeo muito especial!

Depois de mais 40 quilômetros de uma descida surpreendente, cheguei em Los Andes, a 650 metros acima do nível do mar. De 3150 para 650 em apenas 70 km! É de ficar estarrecido! Ainda mais se esse trecho é vencido em cima de uma bicicleta...
E faz calor em Los Andes, rsrsrs... Meu Deus, como é bom o calor!
Resolvi não pedalar amanhã. Vou providenciar na chegada da minha esposa a Santiago, para que possamos, até o final de semana estar em casa.
Claro, tenho ainda 100 km para percorrer. O desafio não terminou. Mas acho que o pior já passou, eh, eh, eh...
Eu consegui! Eu consegui!
Bait’abraço a todos!