Buenas, pessoal!
Sentado no hall de entrada de um Hotel em Uspallata, por alguns instantes tento organizar meus pensamentos, para começar a escrever.
10h da manhã: Ricardo, cicloturista uruguaio, mas que viveu em Santa Maria por anos. Falar português, que maravilha (para ambos)! Seguia de Uspallata para Mendoza! Já sabia que eu estava subindo, porque os motociclistas que eu encontrei ontem fofocaram para ele que um gaúcho estava chegando.
Meio-dia: três ciclistas argentinos de Mendoza. Estão indo de lá para Viña del Mar, no Chile, na estrada por três dias! Subir alguns quilômetros juntos, compartilhando experiências! Que bárbaro! Foi muito engraçado ouvi-los chamar-me de "Pablo". "Fuerza, Pablo!"
01h da tarde: um casal de ciclistas, descendo para Mendoza, um aceno, um adeus, um "buena viaje", e seguem seu caminho.
16h, no Hotel: um ciclista nova iorquino estende suas roupas recém lavadas ao lado do meu quarto. Não fala uma palavra em espanhol, anda com o dicionário debaixo do braço! "A circle in street, than can i do eat?" Acho que foi isso que ele perguntou, querendo saber se depois da rótula havia um restaurante.
17h, no Hotel: um casal de holandeses estaciona as bicicletas, procura um quarto com cama de casal, não há mais, arriscamos um inglês espanholado, ou um espanhol inglesado, conversamos por meia-hora, seguem seu caminho procurando outro hotel. Aperta minha mão com força e segurança. É gente do bem. Sua esposa só exclama: "yea, yea, yea!" Que gente destemida!
18h: um jovem norte-americano, viajante de ônibus, tenta acessar a internet no saguão do hotel, não consegue, iniciamos a conversa, consigo arranhar um inglês sofrível, me faço entender, ele se esforça no espanhol, conta-me boa parte da sua aventura. Faz questão de me dar um "bye" quando sai para caminhar.
19h30min: o nova iorquino faz um novo desenho para o recepcionista que, totalmente perdido, só ri. Nem concorda, nem discorda...
Isso aqui é uma Babel, pessoal!
E a chegada em Uspallata?
Foram incontáveis subidas e descidas, mas eu estava consciente de que estava pedalando para o alto, e muito, porque o caudaloso Rio Mendoza fazia ecoar nos paredões das montanhas o rufar de suas corredeiras. E se há corredeiras, há desnível. E se há desnível, estou subindo, estou subindo!
Cordilheira de muitas cores, de muitas formas, que lentamente vai deixando de ser areia e pedra para virar blocos de rocha nua.
Vi os primeiros picos nevados ainda em Los Potrerillos, onde pernoitei. Quase caí para trás quando meu hospedeiro disse-me que estavam a 180 quilômetros de distância. Dá para imaginar o que seja isso? Parecia que a 10 quilômetros cruzaria por elas! É tudo inacreditável!
Desse mesmo hospedeiro, ganhei uma carta de recomendação para quando cruzar por Los Penitentes, Punta Vacas, Puente del Inca e Las Cuevas. Conhece os donos de hospedagens e de restaurantes. E dele ganhei também uma bíblia, em espanhol, para que não me esquecesse mais de que ele gostara muito de mim. E me fez prometer que, no dia em que cruzar por Los Potrerillos, entraria para visitar sua família (esposa e dois filhos adolescentes) e lhe proporcionar um dia inteiro de boa conversa. Deu-me, ainda, folhas de um chá para indisposição estomacal, se fosse necessário!
Claro que furou um pneu novamente. Foi murchando devagarinho, devagarinho, consegui ainda chegar em Uspallata. Retirei os alforjes, levei a bicicleta a uma oficina, o mecânico não só consertou o furo como ainda trocou o pneu traseiro (estava bom ainda, mas não aguento mais remendar câmaras) e lubrificou todo o sistema de correia e cassetes. Ao preço de... $ 15 pesos (ou R$ 7,00). Não concordei, dei $ 20 pesos em consideração ao seu excelente trabalho. Pediu-me, então, que publicasse o nome da Oficina para que, se um dia algum cicloturista passasse por Uspallata, fosse visitá-lo. Aí vai a promessa cumprida: Eduardo Cignacco, START BIKE. Vale a pena conhecer sua oficina! O cara é galo!
E um "catarina", que viu minha bicicleta parada no restaurante, ao meio-dia, pediu-me licença para tirar uma foto com o meu capacete (super fedorento!), como se tivesse chegado pedalando? Esposa, e outros companheiros de viagem, se mataram de tanto rir! E fotos tiradas para guardar o momento!
Nevou semana passada na Cordilheira! E hoje um vento terrível está assolando Uspallata! Como será amanhã? Disseram-me que terei subidas medonhas, que o Aconcágua já está próximo, e que terei que proteger a garganta para aguentar o frio que está fazendo!
Acho que, na verdade, o desafio nem começou ainda!
Ah, amanhã bato meu recorde de viagens de longa distância de bicicleta. Já percorri 2.150km, e, quando passar de 2.170,9 km (distância que percorri até Brasília, em 2006), essa será a nova marca (a ser superada, claro, eh, eh...)
A internet "fraca" não está permitindo postagens de fotos. Assim que der, elas virão, prometo.
Bait'abraço a todos!