segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Lunes en Villa Mercedes

Buenas, pessoal!
(Traduzindo o título: "segunda-feira em Vila Mercedes". Foi só para me exibir...)
Em primeiro lugar, quero agradecer à participação de todos vocês no Blog, através dos comentários! Já disse, mas não canso de repetir, que as mensagens que vocês postam ajudam a matar um pouco a grande saudade que sinto de casa e de todos a quem quero bem!
Mas o objetivo, a cada novo dia na estrada, fica mais perto, mais visível!
Aliás, o "mais visível" até que caiu bem, porque hoje, depois de mais de mil quilômetros rodados nessas planícies sem fim, vi a primeira grande mudança no relevo: um morro, morrinho, mixuruca mesmo, talvez com 100m de altitude, a uns 3 km de distância, no horizonte, denunciando mudanças à frente. Se vocês se esforçarem (esforcem-se, por favor!), verão uma mancha azul-escuro lá no fundão da paisagem. É, bem, esse foi o morro que apareceu...



O mais incrível é que, para tirar essa foto, subi num barranco e tomei um baita susto! Uma cobra estava enroscada num monte de folhas secas que escalei para chegar no alto. Era marrom claro, o corpo curto mas grosso, e sua cabeça triangular denunciava ser venenosa (ao menos foi isso que aprendi no Colégio São José). Pior, ela se veio na minha direção, subindo o barranco também! Ah, será que vou ter que forcejar? pensei, e, sei lá daonde arranjei coragem, abaixei-me para tirar uma foto daquela sem-vergonha que quase me fez descer o barranco rolando! Mas sua escalada tinha uma razão: debaixo das folhas estava sua toca, e (nunca tinha visto isso) ela ergueu a cabeça e deu uma "ponta" para dentro do buraco. Em segundos seu corpo inteiro mergulhava. Eu? Bom, fica por conta da imaginação de vocês quanto tempo precisei para que meu coração parasse com a palpitação. E sem a foto, o que é mais triste!
Se não me engano, acho que já comentei com vocês o grande nacionalismo que existe em toda a Argentina. Há, às margens de todas as rodovias, placas com a frase "Las Malvinas son argentinas!", e bandeiras do País estão hasteadas nas entradas de fazendas, nas capelinhas de devoção a santos, nos restaurantes, é incrível! Pois vejam o que encontrei em frente a um Quartel das "Fuerzas Armadas" em Rio Cuarto: uma estrutura de concreto, em forma piramidal, com a frase "Nada es imposible" gravada em todos os lados! Talvez para eles, retomar as Malvinas da Inglaterra foi impossível (por ora), mas achei que a frase caía bem no meu desafio... Que atrevimento, né, che?

E esses aí embaixo? Três argentinos de Mendoza compraram umas bicicletas de 8ª mão, fizeram algumas adaptações, e se propuseram a conhecer o País num ano, pedalando, dormindo em carpas (barracas), cozinhando sua própria comida numa trempe que levam consigo, e, claro, sem dinheiro algum, contando com a generosidade da sua gente para levarem a cabo a empreitada (o terceiro não aparece porque está tirando a foto, dãããã).

Os conheci quando parei para tomar uma água, vi o acampamento debaixo de uma árvore, as bicicletas paradas, e não me sofri: fui perguntar o que estavam fazendo. Ah, dali para um dedo de prosa (ou melhor, uma tentativa de prosa, por causa do meu portunhol de 5ª categoria) foi um já! Uns guris muito idealistas, cabelo rastafári num deles (jeito de quem não é muito amigo do banho), espírito paz-e-amor-e-por-favor-viva-e-me-deixe-viver. Lógico que gostei deles!

Mas gostei mais ainda de dois novos amigos que fiz no Hotel Colonial, no qual estou hospedado em Villa Mercedes, após 130km pedalados hoje. Dois caminhoneiros, jovens, que estavam numa habitación ao lado da minha. Quando um deles, Xavier, me viu desmontando a bicicleta para guardar os alforjes dentro do quarto, veio se achegando, perguntando de onde vinha, para onde ia, acabou chamando seu colega de trabalho, Sergio, para a conversa. Capaz que não fomos jantar juntos! Se não tivessem que acordar às 03h da manhã para seguirem viagem, talvez até agora estivéssemos treinando mímica para nos compreendermos, eh, eh...


Peguei chuva durante toda a manhã, e batia queixo de frio! Mas não adianta colocar muita roupa: essa molha também e incomoda mais do que apenas uma camiseta. Além do mais, obriguei-me a pedalar com mais força para manter o corpo aquecido e a mente ocupada. Resultado: às 05 da tarde já estava alojado no Hotel. Deu tempo até de retirar toda a muambada de cima da bicicleta e passar um pano nela - credo, estava podre (ela, gente, ela)!
Amanhã o destino é San Luis e, aí, uma infindável reta de mais de 250 km até Mendoza. Com certeza esse trecho será bipartido, provavelmente de modo a que eu pernoite em La Paz. Ainda não sei como o tempo se comportará. E ele tem sido decisivo no ritmo da pedalada.
Bait'abraço a todos!