quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Dormirei aos pés da Cordilheira!

Buenas pessoal!
Esta é a segunda postagem de hoje. Já postei outra momentos atrás, que trata da minha passagem, ontem, por La Paz (não havia Wi-Fi no Hotel).

É, quem diria que, 18 dias depois de partir de Montenegro, a 2.035 km de distância, hoje dormiria aos pés da Cordilheira dos Andes, na cidade de Mendoza, oeste argentino?
Pois é...
Cá estou eu, olhando da janela do quarto do Hotel o céu dos Andes, domínio do condor, onde os incas construíram Machu Pichu, onde as neves eternas desafiam pessoas, onde o Aconcágua reina soberano, com seus 6.969 metros de altitude, como o ponto mais alto das Américas...
Cá estou eu, sentindo-me um ninguém diante da majestosidade da Cordilheira, tentando entender como a natureza conseguiu edificar esse colosso...
Cá estou eu, pasmo e boquiaberto! Os Andes estão ali, a poucos quilômetros de distância!
Os Andes, que esperam por mim a partir de amanhã, e nos próximos 5 dias, para a mais fantástica travessia que já fiz na minha vida!
Cá estou eu, coração aos saltos, imaginando como será sair do seu sopé para chegar aos 3.800 metros de altitude, na Estátua do Cristo Redentor, divisa da Argentina com o Chile! De bicicleta!
Cá estou eu, realizando um sonho por anos acalentado!

Não é possível descrever a Cordilheira! A 110 km de distância (isso mesmo: cento e dez quilômetros!) já divisava no horizonte os picos gelados dos Andes!
Tirei uma sequência interminável de fotos! A cada 5 km, parava a bicicleta e registrava o que via! Inóquo, porque a câmara jamais teria condições de reproduzir o que meus olhos enxergavam!



O que me entristeceu foi que, à medida que me aproximava de Mendoza, a nebulosidade foi aumentando sistematicamente. O tempo armou-se para a chuva, e os grandes picos nevados sumiram-se atrás das nuvens... Cheguei a temer que fosse me molhar antes de localizar um Hotel. Mas, até agora, noite escura já, não caiu uma gota d'água.
Enquanto isso, vá pedal! E, assim, bati na casa dos 2.000 km percorridos, 35 km antes de chegar a Mendoza! Vale o registro.


Na entrada da cidade, uma saudação bem sugestiva, pelo menos para mim, que estou bastante suscetível a tudo que diga respeito à Cordilheira, eh, eh, eh...



Antes de ir dormir, vi que o tempo lentamente voltou a abrir, e corri para a rua para tentar tirar mais fotos da Cordilheira. Todavia, a quantidade de edificações, árvores, e a falta de um lugar mais alto, não permitiu boas tomadas.



Por já ter passado de carro por aqui há quase 4 anos atrás, sei que essa primeira cadeia de montanhas é também uma "sierra". Terei que entrar na Rodovia em direção a Uspallata para enxergar os primeiros monumentos de pedra, que me acompanharão, então, por mais de 300 km.
Ah, continuo fazendo amigos: estourou um raio da roda traseira da bicicleta, justamente do lado do cassete de pinhões, e preferi procurar uma oficina de bicicleta a ter que desmontar a roda no quarto do Hotel. Não só fui cair numa das maiores lojas de Mendoza, como o dono, Sérgio Ambrosi - que periodicamente faz a travessia dos Andes de bicicleta e me deu um monte de dicas - determinou ao seu funcionário que consertasse a roda, sem custo algum! Ainda me deu um chaveiro de recordação pela minha passagem por sua loja! É incrível como o ciclismo consegue aproximar pessoas!
Amanhã, Uspallta, 130 km "morro acima"! Me desejem sorte e perseverança!
Bait'abraço a todos!

Reta sem fim!

Buenas pessoal!
Esta é a primeira das duas postagens que hoje faço, por conta de que, na cidade onde pernoitei ontem, La Paz, não havia Wi-Fi.
Saí de San Luís com o propósito de vencer em dois dias o trecho de 275 km entre essa cidade e Mendoza.
Já na primeira curva após o fim do perímetro urbano, uma grande surpresa! Estava diante de uma paisagem única! Por conta da topografia da região - uma grande planície -, estendia-se à minha frente uma inacreditável reta de 45 quilômetros de extensão, totalmente visível a olho nu!
Mas como isso seria possível?
É que a primeira parte desse trecho - cerca de 25 km - corresponde a um leve declive, quase imperceptível. Após, inicia-se uma leve subida, de 20 km, ou seja, pode-se enxergar toda a sua extensão, de uma ponta à outra! Lembrando que a "linha do horizonte" (na verdade, o horizonte oceânico), é de 14km, por conta da circunferência da Terra, esse deve ser um dos trechos de rodovia mais extensos visíveis a olho nu do mundo! Tirei foto do km 1, do km 15, do km 30, e do km 45, e não podia acreditar no que o ciclocomputador registrava!
Sem dúvida, essa região deve ser toda vista de forma superlativa!



Seguindo viagem, encontrei outra homenagem a um planeta do Sistema Solar. Se anteontem fotografei Júpiter (aquele "negócio" que, embora tendo nome, ainda não defini se era um monumento, uma estátua, uma escultura), hoje foi a vez de Saturno (bem mais parecido com o original). Será que, até o final da viagem, encontrarei os outros? rsrsrs



La Paz, a cidade onde pernoitei, já pertence à Província de Mendoza (a sexta que cruzei: Corrientes, Entre Rios, Santa Fé, Córdoba, San Luís e, agora, Mendoza). Nas "divisas", cada Província propagandeia seus méritos, e foi assim que encontrei a divulgação de que "San Luís" é esporte. Só se for porque eu estou passando, porque não vi nenhum ciclista na Rodovia, a não ser os operários indo de bicicleta para o trabalho... Assim, aproveitei para me incluir no painel!



E Mendoza propagandeia, inclusive no Pórtico de entrada, ser "la tierra del sol y del buen vino". Para quem gosta, sem dúvida essa Província tem muitos atrativos na área da gastronomia e dos vinhos finos, conhecidos mundialmente. Oliveiras, então, são brejo por aqui!


Os fatos que se sucederam em La Paz quase me levaram ao primeiro "acampamento" da viagem. No primeiro Hotel que cheguei, indicado por um frentista, não havia mais quartos. No segundo, a porta estava chaveada, toquei o interfone, perguntei se havia "habitación", uma mulher gritou "No!" e desligou-o - só depois percebi que estava violando o horário sagrado da siesta, onde a Argentina simplesmente TODA dorme -, no terceiro fiquei plantado na frente esperando alguma alma cruzar pelo caminho, e nada, resolvi voltar para o Posto onde o frentista me havia indicado o primeiro. Ele, então, vendo minha situação, gentilmente se pôs a ligar para um número, pediu-me que fosse para os fundos do Posto, onde havia uma sombra boa, descansar, enquanto ele continuaria tentando localizar o dono do terceiro hotel. Resumo da ópera: dormi uma hora sentado num banco de concreto (devo ter até roncado, porque, quando acordei, nem passarinhos havia mais pela volta).
Mas o empenho do rapaz surtiu efeito e às 18h consegui um quarto para passar a noite. Ao preço de $ 100 pesos (uns 45 pilas, caro para esta região, mas o dono do hotel viu que eu não tinha escolha, ou teria que armar minha iglu debaixo de um cinamomo). Enfim, dormi bem, isso é que foi o mais importante.
Estou me aproximando dos 2.000 km percorridos e mantendo a média de 130km por dia.
A chegada em Mendoza, conto na outra postagem.
Bait'abraço!