Buenas, pessoal!
Duas semanas na estrada!
Quanta coisa já aconteceu desde que, em 1º de novembro, cedo da manhã, peguei a RS-287 em Montenegro, rumo ao oeste, e iniciei essa longa travessia de todo o Rio Grande do Sul e já de boa parte da Argentina, em direção a Santiago do Chile, em direção à Cordilheira dos Andes!
Posso garantir a todos que cada dia merecia páginas e páginas de relato, tal a diversidade de situações que vivencio, protagonizadas por pessoas, animais, clima, natureza, geografia...
E tento (de forma muito acanhada, eu sei) trazer-lhes um pouco do meu dia a dia na estrada, os fatos pitorescos, as curiosidades, as novidades.
Quero confessar-lhes, contudo, que essa travessia não é só uma prova de resistência física; é, também, uma prova de resistência psicológica e mental. Quem me conhece sabe que sou bastante comunicativo ("sinestésico", como me qualificaram dia desses... será elogio ou crítica? rsrs) e enfrentar longos dias na mais absoluta solidão é uma prova de fogo.
E não que não goste de mim mesmo, eh, eh, eh... até que me dou bem comigo, mas os castelhanos devem estranhar um alemão deste tamanho falando com a bicicleta, com um lagarto, com uma vaca... será que já estou pirando? rsrsrs
Na estrada, de bicicleta, vencendo vagarosamente dezenas e dezenas de quilômetros a cada dia, se nos é permitido refletir sobre tudo. Isso é muito legal, mas também muito desafiador. Quantas vezes não gostamos do que vemos, não é?
Enfim...
Ih, já ia me esquecendo! Há um "seguidor" do blog de aniversário! É o meu irmão, Sérgio, uma grande figura (de tamanho e de coração). 46 no ("pequeno") lombo, hein, cara? Felicidades a ti, um sujeito gente boa umas quantas vezes!!!
Claro, claro, o dia de hoje:
Saí de Villa Maria às 09h. Afinal, domingo, até o desajuno (café da manhã) foi servido mais tarde no Hotel. E havia uma distância suportável para vencer: 130 km até Rio Cuarto (escrevi certo, é assim mesmo. Esqueçam o português após cruzarem o Rio Uruguai).
Já na primeira quadra, outra vez vi estacionado um desses Citroen 3cv. Serão mesmo só 3cv? Se forem, até a minha máquina de cortar grama, a gasolina, é mais forte do que ele!
E como a mamãe natureza dá jeito para tudo! Nesses campos sem fim, se o relevo não muda, ela consegue atrair nossa atenção para os pequenos detalhes. Na beira da estrada, um tapete de flores, vida em abundância em cada botão, em cada galho! Ampliando-se a imagem abaixo, vê-se abelhas trabalhando, coletando mel e polinizando as flores. Vida, gente, vida pura!
Há muito mais povoados, agora, entre as "grandes cidades": a cada vinte ou trinta quilômetros, há uma fábrica de ração, ou uma silagem, ou um frigorífico, que devem sustentar a economia desses pequenos vilarejos. Para minha surpresa, as Intendências têm acordado mutuamente, e cada uma constrói uma ciclovia (com asfalto, pintura horizontal, tudo bonitinho!) até os limites do seu município. Com isso, pela primeira vez em mais de 1.500 km percorridos, pude andar tranquilamente por essas ciclovias. O único problema é que os motociclistas dessas Biz, Garelli, Sundown, também estão autorizados a transitar por elas. De vez em quando levava um cagaço por conta de uma ultrapassagem forçada...
Quem me acompanhou por um bom trecho na ruta foi o "Seu" Correa, um argentino boa praça de 52 anos, que estava dando sua volta dominical (de 140 km). Andou comigo por mais de 30 km e me contou muitas coisas engraçadas. Quando soube que eu era gremista, vibrou: se fosse brasileiro, torceria pelo Grêmio também! Mas é Boca (Júniors) e estava feliz com a derrota do adversário (River Plate) ontem ou dias atrás (não entendi muito bem, porque ele se entusiasmou e começou a falar muito rápido. Deixa assim...)
Como minha bicicleta estava muito mais pesada, teve que se sujeitar a pedalar a 15, 18 km/h. Mas percebi que ele estava muito feliz pelo meu esforço em tentar me comunicar com ele. Eu também! Finalmente uma conversa com alguém que não fosse recepcionista de hotel, garçon, frentista ou borracheiro, eh, eh, eh...
A previsão do tempo se confirmou e, à tarde, começou a chover. Antes, o vento resolveu complicar minha vida e a média caiu para 12km/h. Preferi me molhar todo, porque, com a chuva, o vento parou e pude retomar uma pedalada mais forte. Mas me senti bastante cansado pelo esforço e fiquei feliz quando consegui hospedagem num hotel na entrada da cidade de Rio Cuarto. Não havia almoçado (até porque o café da manhã foi tarde, como já relatei) e estava com muita fome. Não foi difícil encontrar no Posto de Nafta (gasolina) contíguo ao Hotel uns sanduíches que são aquecidos no microondas. Enganei o estômago até amanhã de manhã.
Terei 130 km para pedalar nessa segunda, até Villa Mercedes. Pelos meus cálculos, devo chegar em Uspallata, última etapa na Argentina, na 6ª-feira. Aí, Cordilheira dos Andes! Meu Deus!
Bait'abraço a todos!